Ana Paula Meneghetti
Os impactos da pandemia do novo coronavírus na saúde mental podem apresentar desde reações normais, e esperadas, de estresse agudo por conta das adaptações à nova rotina, até agravos mais profundos no sofrimento psíquico. O Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Mogi Mirim, modalidade II (que atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes), tem registrado um aumento de casos depressivos e ansiosos. Segundo a terapeuta ocupacional, especializada em Saúde Mental, e coordenadora do Caps II, Laura Oller Sobrinha, a pandemia é a causa responsável por 50% das novas ocorrências de depressão e ansiedade no município.
Esse serviço, agora ainda mais imprescindível, proporciona tratamento às pessoas que apresentam sofrimento psíquico, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu meio social, familiar e outros espaços psicossociais. “Oferecer acolhimento, escuta qualificada e acompanhamento multiprofissional é o trabalho do Caps II para a prevenção ao suicídio”, destacou Laura.
O Centro Psicossocial recebe usuários em suas diversas necessidades, seja para consultas, psicoterapia ou oficina terapêutica. De acordo com a coordenadora, são 20 novos casos mensalmente, totalizando uma média de 400 pessoas atendidas. O funcionamento do Caps II desenvolve-se através de ações interprofissionais e se inicia com o acolhimento, coleta do histórico e consulta psiquiátrica, seguindo a formulação e desenvolvimento do Plano Terapêutico Singular (PTS), ou seja, um conjunto de alternativas terapêuticas, definidas a partir da avaliação de cada evento.
Os casos, moderados e graves, são da rede municipal de saúde, assistência social e de egressos de internações psiquiátricas. “Casos específicos de depressão e tentativas de suicídios chegam com sintomas exacerbados, como crises de choro, ideias negativas, insônia, com sua vida pessoal e social comprometida. Na grande maioria, as tentativas de suicídios vêm encaminhadas pelo serviço de urgência e emergência (UPA)”, explicou Laura.
Desde fevereiro de 2015, o Caps II está sob gerenciamento da Associação dePais e Amigos dos Excepcionais (Apae), através do convênio com a Secretaria de Saúde. Atualmente, o serviço conta com uma equipe multiprofissional composta por um psiquiatra, três psicólogos, dois assistentes sociais, uma enfermeira, um terapeuta ocupacional, uma nutricionista e profissionais de apoio. É por meio da atuação dessa equipe que são traçadas as necessidades individuais; como a frequência do cuidado, que poderá ser intensivo (para os que necessitam de acompanhamento diário), semi-intensivo (de duas a três vezes por semana) e não-intensivo (uma vez por semana), sendo usuários provenientes de demanda espontânea ou encaminhados por outros serviços.
“Ressaltamos que, durante a pandemia, todos os profissionais mantêm as atividades de maneira individual, respeitando as normas de prevenção da Covid-19, seguindo orientações da vigilância e autoridades de saúde”, reforçou a coordenadora do serviço. O Caps II está localizado à Rua Santos Dumont, 42, no bairro Aterrado. Os telefones para contato são 3806-8186 ou 3806-1060.
SETEMBRO AMARELO
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), lançou, neste mês, a campanha nacional Setembro Amarelo® 2020: É Preciso Agir. A iniciativa, trazida para o Brasil em 2014 – que tem como data símbolo o dia 10, o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio – visa a conscientização, desmistificação e prevenção do suicídio. Dessa forma, é preciso agir o quanto antes para diminuir os números de casos em todo país. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa morre por suicídio no mundo. Já ao que se refere às tentativas, uma pessoa atenta contra a própria vida a cada três segundos. Em termos numéricos, calcula-se que aproximadamente um milhão de casos de óbitos por suicídio são registrados por ano em todo o mundo. No Brasil, os casos passam de 12 mil, mas sabe-se que esse número é bem maior devido à subnotificação, que ainda é uma realidade. Desse total, cerca de 96,8% estão relacionados a transtornos mentais, como por exemplo, depressão e transtorno bipolar. Esse cenário preocupante serve de alerta para que a saúde mental seja um tema importante para a saúde pública.
Ao longo de todo o mês, a ABP desenvolverá uma série de ações voltadas para o tema. Eventos on-line, palestras, iluminação em amarelo de espaços públicos e monumentos e presença nas mídias sociais terão como objetivo fomentar a ação efetiva para a prevenção de doenças mentais e ajudar na desmistificação do tema. Combater o estigma é salvar vidas e auxiliar a sociedade a compreender e identificar casos é a principal forma de ajudar os profissionais da área de saúde, familiares e amigos, principalmente no que se refere à busca por tratamento e instrução da população. Para mais informações, acesse o site oficial www.setembroamarelo.com.
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Fonte: Blog Dor Crônica |
‘Quarta Onda’ ainda não atingiu o pico
Flávio Magalhães
A pandemia da Covid-19 trouxe outros reflexos para além da doença provocada pelo novo vírus. Essas consequências podem ser divididas em ondas, de acordo com a classificação proposta pelo pneumologista do Hospital Universitário Emory, em Atlanta (EUA), Victor Tseng.
A primeira onda é a pandemia em si, isto é, as infecções e mortes causadas pela Covid-19 que pressionaram o sistema de saúde. A segunda onda é a de quadros urgentes não relacionados ao vírus que não puderam ser atendidos devido ao colapso dos hospitais. Já a terceira onda diz respeito a doenças crônicas que tiveram seus tratamentos interrompidos pela quarentena imposta.
No entanto, o que tem preocupado médicos em todo o mundo é a quarta onda, a dos transtornos mentais causados pela pandemia. “Essa curva está ascendente desde março”, disse para A COMARCA a psiquiatra Alexandrina Meleiro, doutora em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Ansiedade, insegurança, depressão devido à perda de familiares ou amigos, alcoolismo, medo de morrer são alguns dos transtornos que tem crescido nesses tempos de pandemia. Todas essas condições podem contribuir para o aumento de suicídios. “Tem o fator econômico também, muita gente teve perda econômica, ficou sem emprego, teve o salário reduzido, as pessoas estão inseguras se vão continuar empregadas”, lembrou Alexandrina.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 93% das pessoas que cometeram suicídio tinham algum transtorno mental, como depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno de personalidade, alcoolismo ou abuso de substâncias. Das pessoas que tentam cometer suicídio, 56% morrem na primeira tentativa e 40% dos que tentaram tornam a repetir ao longo da vida, sendo 25% dentro de um ano.
A psiquiatra explicou que os idosos e os adolescentes são grupos de risco quando o assunto é suicídio. “O isolamento nesta quarentena é um fator agravante para os idosos, porque eles foram abandonados. O isolamento precisa ser físico, não social. Hoje se tem internet e rede social, por exemplo, para facilitar o contato com familiares idosos. Fazer chamada de vídeo, é importante ter esse contato”, destacou. “Em casais, se um dos pares morre, o outro fica sem sentido na vida e começa a ter ideações suicidas”, disse ainda.
“Já os adolescentes tendem a ficar mais reclusos. Há estudos que indicam que o adolescente que fica mais de seis horas na internet ou redes sociais, com exceção do tempo dedicado aos estudos ou ao trabalho, tende a ter um quadro depressivo. Outro sinal é a mudança na vestimenta, passam a usar camisas de manga comprida para esconder que estão se mutilando”, detalhou a psiquiatra.
“As pessoas não têm ideia de que é um risco. O suicídio é um grande problema de saúde pública. Por isso a importância de todos terem conhecimento sobre esse assunto”, enfatizou Alexandrina. Questionada por A COMARCA se os investimentos do Estado são suficientes, ela respondeu que, em qualquer área da Saúde, o cenário é bastante precário, não apenas no Brasil. “No entanto, na área de Saúde mental, é mais precário ainda. O governo tem feito movimentos e esforços nesse sentido, mas ainda não é o ideal, principalmente nesse contexto de pandemia”, encerrou.
Informe-se!
MITOS E VERDADES SOBRE O SUICÍDIO
- Quem quer se matar não avisa, faz – MITO
- Pensar em suicídio é comum – VERDADE
- Falar sobre suicídio pode incentivar mais suicídios – MITO
- O suicídio está vinculado a algum transtorno mental – VERDADE
- O suicídio é prevenível – VERDADE
- Quem pensa em suicídio já desistiu de viver – MITO
- Quem está por perto pode ajudar alguém que pensa em suicídio – VERDADE